segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Você já viu isso no Brasil?

(ou em qualquer outro lugar do mundo que não seja o Japão?)

The sudden death of a Hokkaido pediatrician who reportedly worked more than 100 hours of overtime in a month has been recognized by the Hokkaido Labor Bureau as a case of karoshi, or death from overwork, it was learned Friday.
The man died from heart disease at his home on Oct. 6, 2003. He was 31 years old.

http://www.yomiuri.co.jp/dy/national/20070224TDY03006.htm

Eu não... assustador é que tem até uma lei que regulamenta quais são as condições em que se pode dizer que alguém morreu por excesso de trabalho (se não me engano, é se ela fez mais de 80 horas extras no mês anterior à morte). Melhor ser meio vagabundo, pobre, mas feliz, do que trabalhar feito louco, ficar rico, mas morrer com 31 anos.
Concordam comigo?

Alice

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Uma hipocondriaca no primeiro mundo


Hoje troquei o trabalho pelo hospital. Acordei me sentindo meio mal e resolvi tentar ir ao médico por aqui. Achei um International Catholic Hospital, que tem médicos que falam inglês - tinha que ser assim, pq pra eu explicar meus sintomas em japonês não rola. Fui lá e... ADOREI!
Primeiro, a recepcionista foi superlegal e atenciosa e fez na hora um cartão do hospital pra mim. Chique demais. Daí, fiquei esperando o médico me chamar. Demorou, mas acho que é porque só um dos médicos falava inglês. Quando ele me atendeu, foi superfofo também. E aí mandou eu fazer exame de sangue e urina. Fui no andar debaixo, tirei sangue (e a moça fez muito bem, não doeu nem ficou roxo) e ganhei um copinho de papel, igual de café, para fazer xixi. Dentro do próprio banheiro tem uma janelinha. Vc enche o copinho, bota na janelinha e alguém pega do outro lado. Quarenta minutos depois o resultado já estava pronto. Voltei no médico, que foi ainda mais fofo, me explicou tudo direitinho, ainda ficou puxando papo comigo sobre o Brasil e porque meu sobrenome era japonês. E aí me receitou cinco remédios, um para cada sintoma, e me deu uma pastinha.
Fui até o caixa, porque agora era hora de pagar a conta, e moça me ensinou: toda vez que eu ganhar a pastinha, coloco ela em um escaninho no balcão, espero cinco minutos, ninguém vai dizer nada, mas depois desse tempo eu vou até um caixa eletrônico que tem do lado do balcão, coloco meu cartão e aí a máquina já me diz quanto eu tenho que pagar. Fiz tudo isso, enfiei notas e moedas na máquina (também podia passar o cartão de crédito se quisesse), recebi meu troco e meu recibo.
Depois disso, atravessei a rua e entrei na farmácia com a receita que o médico me deu. A moça pegou o papel, me fez esperar um pouco e me deu um envelope, com a quantidade certinha de compridos que eu preciso para os cinco dias de tratamento, uma caderneta tipo a de vacinação, falando quais remédios eu tomei hoje, e um papel (esse aí do lado), com fotos dos remédios, pra que serve cada um e como eu devo tomar. Fala se não é muito bom?
Eu nunca saí tão feliz do médico! E com certeza antes de ir embora vou ter que ficar doente de novo, só para poder usar meu cartão do hospital!

Alice, doente, mas feliz

P.S.: esqueci de contar o que eu tenho. É infecção intestinal e urinária. Devo ter comido algo podre que fez mal pro corpo inteiro. Afe!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Promessa de ano novo chinês


Domingo começou o ano 4705 segundo o calendário chinês. Então, vou aproveitar a oportunidade para fazer uma promessa de ano novo. Até o fim do ano do javali, não vou mais beber feito louca. Chega de acordar de ressaca, cheia de hematomas e sem lembrar de metade da noite. Sabe quando a galera que tava na festa com você começa a contar as coisas e você não tem a menor idéia de que aquilo aconteceu? Pois é... não quero mais isso!
Então, tá feita a promessa. E se eu voltar a beber aquele tanto todos meus amigos podem me dar um beliscão na bunda, um tapa na cara e ainda me deixar de castigo num canto.

Alice

P.S.: Não é nada disso que vocês estão pensando. Não fiz nada de (muito) errado ou envergonhante. Mas acho péssimo ter amnésia alcóolica. E ainda ficar com dor de estômago pro resto da semana e com suas roomates querendo te expulsar porque já fazem três dias desde a festa e a casa continua com cheiro de cinzeiro...
E esse cartaz está em chinês e não em japonês, antes que me perguntem o que está escrito.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

O país que odeia estrangeiros

Imaginem uma pessoa entrando em um café, uma lanchonete ou uma loja de qualquer coisa no Brasil e falando com sotaque, explicando que não é brasileira. A primeira reação do vendedor seria perguntar de onde a pessoa é e querer puxar papo, não? No Japão, quando alguém diz que não é japonês, principalmente se tem cara de japa igual eu, o pessoal trata mal.
Quando eu digo esse tipo de coisa, tem gente que acha que eu estou exagerando ou que eu é que não gosto do Japão. Mas, essa revista aí mostra que o pessoal aqui realmente não quer saber de gaijins.
O nome da revista é "Os crimes mais incríveis cometidos por estrangeiros – arquivo 2007". E uma das chamadas são aspas do chefe de polícia do Japão dizendo: "neste ano, todos seremos vítimas dos estrangeiros!".
Parece piada, mas é sério. Comprei a revista, vai virar matéria aqui no jornal em que eu trabalho. Ela faz um top 10 dos piores crimes cometidos por estrangeiros durante o ano, fala de brasileiros, americanos, chineses, coreanos, colombianos, peruanos… Faz até uma reconstituição em mangá dos crimes. E todos os estrangeiros têm cara de maus, muito maus, quase zumbis. Fiquei chocada. O pior é que ela é vendida em qualquer lugar, eu comprei numa livraria estilo FNAC. Mas também tem em lojas de conveniência. Já estou imaginando os japoneses lendo isso e morrendo de medo de qualquer estrangeiro que chegue perto.
E aí hoje, com a revista em mãos, eu virei para os meus colegas de trabalho e perguntei: se não somos bem-vindos e se os japoneses nos odeiam tanto, o que a gente tá fazendo aqui? Ninguém soube me responder…

P.S.: Tenho que me retratar… a capa é escandalosa, as matérias são sensacionalistas, mas nas páginas preto e branco tem textos falando que talvez a culpa por tantos crimes seja da sociedade japonesa, que trata os estrangeiros de países subdesenvolvidos como escravos. Até que o editor pode ter vontade de abrir uma discussão sobre a situação dos estrangeiros, mas quem lê, só lê mesmo as partes sensacionalistas, coloridas, as novelizações dos crimes, e fica com uma impressão horrível!

Alice

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Rumo ao serengueti

Quero ir pro Serengueti. Viver numa savana africana deve ser muito mais fácil. Lá você sabe quem é predador, quem é presa, quem é o que de quem. Sabe como lidar com todos: do leão você foge, ou ele te come. Pra hiena você não ri, ou ela te persegue. Os crocodilos você deixa quietinhos lá tomando sol, e não provoca. Dos elefantes não precisa ter medo: é só ter cuidado pra não ser pisado ou esmagado por uma bundona, e ficar longe se eles disparam a correr por algum motivo.

Mas o mais importante de tudo é que lá leão é leão e pronto. Não finge ser gnu ou zebra. Para caçar ele tem estratégia; se esconde, vem de mansinho e depois dispara. Mas não engana ninguém. Não tem mistério, não tem joguinho, não tem nem como um bicho ser falso pra outro bicho. Se o leão aparece, ele te come, e pronto. Morreu. Ele tampouco vai dar só uma mordidinha e ir embora experimentar outros sabores de carne. Você vira um bifão, não tem choro. Acabou, e vai pro céu.

O Serengueti é a interface mais WYSIWYG* que existe! Quero ir pra lá.


Naftalina.

*What you see is what you get.