sexta-feira, outubro 05, 2001

O Espelho
Hoje eu queria escrever sobre olhos e espelhos. Mas não sei se consigo. Há um certo tempo me afastei da escrita e já não tenho mais a prática, preciso voltar a treinar. De qualquer jeito, é agora ou nunca. Quero que ele leia isso. Quero que ele saiba sobre o espelho que eu tinha, um espelho para o qual eu nunca cansava de olhar. No qual eu me via mais completa, mais bonita, mais verdadeira. A distorção desse espelho (porque todos os espelhos distorcem) me fazia mais alegre. Era como se nesse espelho não houvesse mal e tudo de ruim que há em mim desaparecesse.
Só que o espelho de repente se fechou para mim. Morri sufocada no único lugar de onde eu nunca poderia escapar. Agora sou vampira sem reflexo. Uma eterna morta que não abandonou seu corpo.
Eu sempre quis ser vampira, mas nunca tinha parado para pensar como é ruim não poder mais se ver. Você perde o referencial de quem é, passa a ser só fragmentos. E sem um fim, o tempo passa de modo estranho, porque não há objetivos.
Pronto, vou parar por aqui, não importa que seja bruscamente. Disse o que queria dizer, mesmo sabendo que ele não vai entender, mesmo sabendo que não foi suficiente, que ainda há muito mais a ser dito. Mas não há tempo para a palavra final. Nunca haverá.

Alice

Nenhum comentário:

Postar um comentário