segunda-feira, outubro 08, 2001

Por uma vida menos ordinária
(eu sei, o título não é nada original, plágio mal feito! Tudo bem, eu não ligo)

Ela era normal. Família normal, amigos normais, problemas normais, colégio normal, vida amorosa normal. Tudo dentro dos padrões.
Saía para ir ao cinema, ao shopping, ficava, namorava os carinhas da turma, fazia tratamento para acabar com as espinhas, freqüentava o clube, fazia exercícios, planos para o futuro (casamento, filhos, casa, profissão...).
Uma vida cronometrada. Idade para ir à escola, sair com os amiguinhos, entrar na puberdade, "virar mocinha", ter namorado, prestar vestibular, ir para a faculdade, dedicar-se à vida proficional, namoro sério, noivado, formatura, mais noivado, emprego fixo, salário bom, casamento, gravidez, filhos, família constituída, brigas conjugais, amantes...
Um dia ela acordou com um vazio. Um vazio que sempre a acompanhava, mas que só agora fazia sentido. Acordou e seus filhos não estavam mais lá. Seu marido dormia e roncava como seu pai. O vazio não a deixava em paz. Começou a se tornar desesperador. Nada mais vazia sentido. Uma vida inteira dedicada aos outros, à sociedade. Não sabia quem era. Nunca soube. Sentiu uma vontade súbita de sumir. Foi o que fez. Pegou o carro, decidida a fugir, sem rumo, sem volta. Lembrou que precisava comprar um remédio para a próstata do marido. Entrou na farmácia de sempre, levou o remédio e a certeza de que não podia mais escapar. Já estava tudo formado, cercando seu espírito angustiado por mais, mais vida, mais cor, mais, mais o quê? Não tinha idéia. Achou que era egoísta demais, exigente demais. O que mais queria? Tinha tudo. Tudo que uma pessoa poderia imaginar de uma vida feliz. Sentiu-se culpada por desejar mais e voltou para casa decidida a não pensar mais nisso. Beijou o marido automaticamente, sorriu como de costume e foi assistir tv, o programa de sempre.

Mulher do Padre

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