sexta-feira, novembro 29, 2002







Sacanagem nas mãos de um garoto de doze anos. As páginas são amareladas, envelhecidas pelo tempo. João Ricardo estava na sala dos fundos do bar de seu pai, fuçando as gavetas, quando encontrou os famosos “catecismos”. Ele logo pensou “Pô, putaria! Vou ver!”. Foi uma descoberta. “Até então, não lembro ter visto nada igual”, recorda, hoje, aos 23 anos. E brinca: “Lá, qualquer um podia abrir a porta. Se tivesse em casa teria tido melhor proveito”. E que proveito!
Não fossem as páginas envelhecidas, essa cena poderia ter acontecido nos anos 50 ou 60, quando os quadrinhos de Carlos Zéfiro iniciavam os jovens nas práticas libidinosas. “Naquela época, era difícil de conseguir, mas sempre tinha um amigo mais velho que arranjava uma revista ou outra”, conta Israel, sobre sua penetração no mundo dos quadrinhos eróticos.
Zéfiro não foi o primeiro a introduzir o gênero, mas foi o mais famoso autor brasileiro de revistinhas de sacanagem, que circulavam por baixo do pano. Os autores usavam pseudônimos, como o próprio Zéfiro, cuja verdadeira identidade só foi descoberta em 91 – um ano antes de sua morte. Sobre ele, criaram-se muitas fantasias: que teria morrido e seus originais perdidos num incêndio; que teria ficado rico com as revistinhas e se aposentado para criar galinhas (sem trocadilhos) numa chácara do Rio de Janeiro e até que seria um desenhista famoso, que hoje trabalha com quadrinhos infantis. Para a decepção dos estimulados leitores, ele era um pacato pai de família, que mantinha a identidade secreta porque temia perder o emprego.
Se antes era uma coisa tão proibida, hoje parece engraçado, se comparado com a avalanche de “nus artísticos” que podem ser encontrados na banca de qualquer esquina – tanto que seus desenhos estampam até um CD da Marisa Monte.

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