segunda-feira, setembro 29, 2003

Quando Alice e Garota Enxaqueca tentaram sair de seus corpos

Há alguns meses, as duas PFGs fizeram uma reportagem sobre pessoas que saem do corpo. E como ouvir um monte de gente falando não se compara a vivenciar a coisa (tipo aqueles repórteres que resolvem ser qualquer coisa por um dia), elas tentaram fazer com que suas consciências se separassem do invólucro de carne. Foi então que surgiu a crônica abaixo. Para saber se elas conseguiram sair do corpo ou não, é só ler - pode parecer enorme, mas nem é tão grande assim e é bem divertida.
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“Não é uma questão de fé. Vocês não precisam acreditar que seja possível sair do corpo. Vocês podem sair, e então saberão do que eu estou falando.” Não ouvimos essas palavras de um entrevistado, e sim de todos. Argumento de quem realmente está convencido do que diz, ou estratégia de marketing? Na dúvida, resolvemos conferir. Mas que técnica usaríamos para sair do corpo? Experiência de quase morte com certeza é uma das mais interessantes, quer dizer, se conseguíssemos voltar para contar a história. Outra opção era o coma alcoólico, não fosse um probleminha: um coma alcoólico intencional é complicado porque chega um momento em que o “repórter” se esquece que deve continuar bebendo, e pára na fase do porre. Já o Santo Daime exige três dias de abstinência de sexo, álcool, drogas e comidas pesadas - ufa, dai-me forças!
O jeito foi partir para as técnicas “tradicionais” de relaxamento e concentração: respirar em um saco de papel, olhar fixamente para a chama de uma vela, olhar-se no espelho (sem acessos de vaidade ou autocompaixão, o que, convenhamos, exige muuuita concentração). Pensando bem, o mais tradicional seria simplesmente nos sentarmos e começarmos a meditar. Ah, mas isso não é tão simples assim. Você já entrou em alfa? Pois é, nós também não. Então lá fomos nós cair de boca no habitat do pãozinho de padaria. Teoricamente, assim aumentaríamos o nível de gás carbônico no sangue, e isso relaxa. Bem, não funcionou. Dizem as más línguas que havia um buraquinho no saco, vá saber...
Próxima tentativa: o espelho. Não se deve olhar nos próprios olhos, para não acontecer uma autohipnose. E lá nos equilibramos, de pé em almofadas (o espelho ficava em um nível meio alto), com o olhar fixado em um ponto na testa. Patético, uma de nós quase caiu e a outra teve um ataque de riso... e ainda pensávamos que meditar sentado era uma questão de conforto.
Passado o susto, procuramos uma relação mais harmoniosa entre humanos e almofadas - nos sentamos nas ditas cujas - e a encaramos: a chama da vela. Sem piscar e sem engolir saliva, porque as atividades do corpo físico não podem interferir no desprendimento da consciência. Não, não saímos do corpo. Mas a vela saiu! Surgiu um espectro da chama, que se movia e crescia. Como se as míopes que somos estivessem sem lentes, e a vela estivesse fora de foco. Porém, era bem mais real, quase palpável. Claro que não apalpamos, seria um pouquinho, digamos, ardente. Mas uma de nós - a menos emotiva - esteve a ponto de chorar e babar. Até que um som externo nos fez desviar os olhos, e então o efeito passou.
Olhos devidamente lubrificados e saliva engolida, achamos que era hora de apelar. Se filhas da metrópole têm dificuldade em relaxar, não tem de conseguir um pouquinho de erva. Inútil. Talvez sejamos corpos fechados.

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