quarta-feira, janeiro 30, 2002

Pelo direito de falar da depressão

Faço pose? Pode ser. Mas não me venha dizer que não sei o que é ficar deprimida. Já tive crises bravas, de ficar dias deitada na cama sem ter forças para levantar. Nem para comer. Eu só conseguiu beber alguma coisa se alguém me trouxesse. Passava o tempo todo no meu quarto, com a TV ligada, mas sem força nem para prestar muita atenção no que estava passando. Simplesmente não dava, parecia que tudo era difícil demais. Se isso não era estar deprimida, você está certa, eu não sei o que é depressão.
E você deve saber que a depressão tem vários níveis. E até chegar ao fundo do poço demora um certo tempo. E tem vezes que eu sei que posso chegar lá de novo, que posso ficar de novo sem vontade nem de sair da cama. E aí eu tento fazer algo. Nunca sei por onde começar, mas acho que qualquer coisa pode te salvar, pelo menos dar um certo apoio e não te deixar cair de vez. Nunca procurei psiquiatra ou qualquer coisa assim. Não porque os desmereça: eu realmente acho que eles ajudam. Mas eu não quero isso pra mim. Depois de passar meses em casa sem sair , como você, não conseguir nem ao menos ler um livro ou ver um filme e ter engordado dez quilos (acho que essa foi minha última crise mais brava), eu vi que pequenas coisas podem te salvar. Uma música, fazer um esforço e ligar para alguém de quem você gosta, tentar sair de casa nem que seja para andar um pouco.
Então, acho que eu sei um pouco sobre o que é estar deprimido. E, se muitas vezes parece que eu só estou fazendo pose e dizendo que estou deprimida (sim, eu uso a palavra depressivo de modo banal), mas vocês não me vêem realmente mal, é porque aprendi a não chegar mais ao fundo do poço.
Bem, mas depois de tudo, desculpe se te ofendi, não era a minha intenção.

Alice

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