quarta-feira, março 17, 2004

Por que existem pessoas tão idiotas nesse mundo?

Théo era filho único. Desde pequeno, superprotegido pelos pais, logo se tornou o nerd da turma. Lembro bem de sua aparência aos 10 anos: baixinho, gorducho, dentuço e um par de óculos no rosto.
Nessa época, sua mãe, Maria, resolveu aproximá-lo do filho da vizinha, Rafael, que tinha a mesma idade que ele e começaria a estudar na mesma escola. Maria ficou com dó do menino e pediu para que Théo não o deixasse sozinho e procurasse integrar o garoto em sua turminha de amigos. Mal sabia ela que seu gesto nobre traria uma recompensa nada agradável...
Cada dia uma das mães levava os garotos na escola. Iam sempre bem animados no carro. Logo Rafael se enturmou e ia todo feliz para aula.
Mas um dia as coisas começaram a mudar. Voltando das compras com Théo, Maria percebeu uma movimentação estranha no prédio. Havia alguns meninos da escola lá e eles acabaram subindo no elevador juntos. Para sua surpresa, os meninos desceriam no mesmo andar que o dela. Quando a porta do elevador foi aberta, Maria deparou-se com sua vizinha, que logo esboçou um sorriso sem graça. Pela porta entreaberta do apartamento, Maria percebeu que na casa de sua ‘amiga’ estava praticamente a escola toda, inclusive os pais dos alunos. Sua vizinha havia preparado ‘a festa’ de aniversário para Rafael e teve coragem de soltar a desculpa mais ridícula do mundo: “Ai, desculpe, não tive tempo de convidar vocês. Fiz tudo às pressas. Mas vocês podem ficar à vontade pra entrar”. Théo olhou para a mãe: “Posso ir mãe?”. Todo inocente, nem percebeu o ocorrido.
Maria deixou o filho ir e agüentou as pontas até entrar em seu apartamento. Caiu aos prantos em seguida. Ficou ali, sozinha no quarto, procurando um motivo que explicasse a situação até ouvir os gritos dos meninos, que entraram em seu apartamento: “Tia, tia, corre, tão batendo no Théo lá embaixo!”.
Ela correu para a quadra. A cena era triste: a cabeça de Théo sendo esmagada contra o chão por um dos meninos. O líder da turma. Detalhe, esse idiota tinha 16 anos na época. Uma covardia. Ninguém teve coragem de impedir até Maria chegar.
Ela separou os dois, brigou com o idiota, que ria na cara dela, e levou o filho pra casa. (Se não me engano, esse idiota continua um idiota, não mora mais lá, mas continua vendo os garotos do prédio e sempre oferece alguns ‘aditivos’ pra eles). Bom, depois desse dia a paz deixou de existir entre eles e os vizinhos e Théo nunca mais teve coragem de descer sozinho no prédio. Não vai à piscina, não aproveita a quadra, não gosta de lá.
Os garotos do prédio continuam enchendo o saco dele. Acho que precisam disso pra se sentir superiores. Mal sabem que isso só faz deles mais idiotas!
Não acompanhei a adolescência do Théo. Só o vi de novo depois de uns anos, quando vim morar aqui em São Paulo. Por incrível que pareça, hoje ele é um rapaz bonito, alto, todo sorridente, parece bem resolvido, além de ser muito da paz. Fiquei supresa. Achei que ele ia ficar revoltado, com traumas e problemas maiores, mas não. Tenho orgulho dele. Espero que se dê muito bem nessa vida e aqueles, que morram idiotas.

Mulher do Padre, que voltou a escrever depois de muuito tempo :)

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