segunda-feira, julho 15, 2002

Eu TINHA q colocar isso aki...

A GE me mandou um email esses dias, me citando uma coluna do Alcino Leite Neto na "Pensata" da folha. O q ela disse não interessa, e mesmo se interessasse eu divido q ela deixasse publicar. Mas a coluna vale a pena ler, por isso posto aki (ah, a coluna tá só pela metade. Se quiserem ler a coluna inteira, peçam o link para a GE):


Um dos raros filmes atuais de amor em cartaz em Paris é o japonês "Audição", de Takashi Miike, que a crítica francesa adorou. Um empresário de mídia se cansa da sua viuvez de anos e resolve encontrar uma namorada. Ele não quer errar, contudo, quer achar de uma vez a mulher certa para si.
O que ele faz? Organiza com a ajuda de um amigo um pretenso concurso de atrizes para o papel principal num drama de televisão. Recebe os currículos. Entrevista as garotas e, entre elas, descobre uma pós-adolescente angelical, que corresponde em tudo à sua fantasia. Envolve-se com ela. Apaixona-se até a loucura. Um dia, a garota desaparece. Ele vai ao seu encalço, seguindo as poucas pistas que deixou. Descobre um mundo estranho e sombrio.
A garota reaparece certa noite. Invade a casa do empresário, em vestimentas negras sadomasoquistas. Ataca o amante, imobiliza-o com uma injeção e, lamentando que ele a tenha usado para o sexo, fingindo amá-la, abre uma valise onde estão dezenas de agulhas pontiagudas. Vai espetando uma a uma sobre o corpo do homem, que se contorce de dor, sem poder gritar. O abdômen, o peito, as bochechas, as pálpebras - ele fica cravado de metais. É uma cena asfixiante de tortura. Algumas pessoas em Paris saem da sala do cinema.
"Audição" é um filme de amor, cujo desfecho patético não deve ser encarado moralmente. O empresário japonês evitou, sim, os riscos de um amor às escuras, fazendo uma seleção de candidatas para o seu investimento sentimental.
Mas, por fim, ele se apaixonou como qualquer um, e a sua punição é o desfecho do próprio sentimento: é sua necessidade. É o sofrimento por que todo amante passa e precisa passar. A ênfase do diretor na tortura é quase uma demonstração alegórica de como não se pode exigir do amor que ele seja asséptico, sem uma boa dose de dor.
A economia psíquica atual manda as pessoas evitarem o sofrimento e buscarem aplicações de retorno seguro e satisfatório, como o trabalho, para onde vai hoje o principal do investimento emocional pequeno-burguês.
É toda uma lógica mercantil aplicada à subjetividade. Neste sistema, o amor tende a se tornar cada vez mais uma despesa ociosa, inútil, maldita, pois implica sempre numa disponibilidade vã, num risco interminável, numa aplicação no escuro, numa perda contínua de si e do seu mundo.
Implica também no tormento mental, na dor física, na confrontação com a morte, em suma. Pouca gente se dispõe a tanto, hoje em dia. Somos todos pragmáticos, higienizados e felizes.
O amor já foi destrinchado por filósofos, sociólogos e psicanalistas. Há milênios, ele vem sendo sistematicamente condenado na sua condição de amor-paixão como fonte de egoísmo, de sofrimento, de erro moral e de desequilíbrio psíquico. Atualmente, até os artistas têm receio de se imiscuirem no assunto: o amor virou kitsch.
De certa forma, contudo, o amor-paixão permanece uma das principais manifestações da vontade de viver para o sujeito - e da vontade de mudar a vida. Que ele apareça tão pouco nos filmes é um sintoma. E qual o diagnóstico? É que o cinema está ficando cada vez mais sem graça e a vida também.


Tá, podem me chamar de doente, mas eu ADOREI o q esse cara escreveu. Concordo com cada letra. E ainda por cima fiquei morrendo de vontade de ver esse filme. Alguem sabe mais alguma coisa sobre ele?

Monica

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