segunda-feira, outubro 08, 2001

Coisas que observo

Ela era amiga de todos e de ninguém. Falava com todo mundo, falava de todo mundo, falava bem, falava mal, falava pelas costas, falava na cara. Era articulada, tinha umas tiradas inteligentes e sempre se divertia com os defeitos alheios.
Eles gostavam dela. Consideravam-na uma amiga, uma pessoa engajada, competente, preocupada com as causas sociais, uma boa pessoa. De certa forma, essa também era minha visão, mas confesso que sempre fiquei com o pé atrás. Não confiava nela. Talvez por instinto, intuição, whatever.
Comecei a perceber coisas que ninguém via (se viam, não queriam demonstrar, como eu). Enquanto o resto via alegria, eu via inveja em seus olhos. Ao invés de uma pessoa preocupada com os outros, sentia frieza, egoísmo, uma certa crueldade. Mais preoucupada com status, em ser admirada por seus atos, sua inteligência, que pelas causas que abraçava.
Passei a ter medo. Não sei do que, talvez de mim, por imaginar demais ou por ver demais. Ver coisas que ninguém ou poucos percebiam. Ver como os seres humanos se mascaram, escondem sua maldade intrínseca. Aquela coisa do lobo vestido de cordeiro. Sábio ditado popular.
Coisas de quem gosta de investigar o ser humano nos seus mínimos detalhes, desvendar seus segredos íntimos, seus defeitos obscuros, aquilo que não se revela, que se esconde, que se esquiva.
Paranóia minha? Pode ser...

Mulher do Padre

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